Já se afirmou certa vez que podemos até encontrar civilizações sem justiça, sem educação, mas jamais encontraremos alguma civilização sem um deus para ser adorado. A adoração, seja ela verdadeira ou não, é algo carregado no próprio ser do homem. É evidente, que a queda no Éden produz uma distorção nessa intrínseca adoração, o que resulta em um número cada vez maior de deuses em diversas épocas.
Não diferente às civilizações, a Bíblia está repleta desse assunto. A adoração a Deus é um dos temas centralizados na Escritura, aliás, o erro inicial do homem se dá justamente por uma recusa em se obedecer incondicionalmente essa premissa divina de adoração.(Gn 3.1-6) As palavras de Satanás no Éden são uma tentativa de manchar o caráter de Deus. Ao incentivar o homem a uma nova compreensão da ordem de Deus(Gn 2.16-17), Satanás cria nele um desejo de possuir o que a Deus pertencia, logo, Satanás estava dizendo ao homem que Deus era obtuso, arrogante e exclusivista(Gn 3.4-5). Outro exemplo claro de uma adoração exclusiva, e normativa a Deus, constam nas ordenanças dos Dez Mandamentos. Os dois primeiros mandamentos expressam uma determinação divina para uma adoração ao único Deus(Ex 20.1-4).
Note que a queda no Éden exemplifica o momento em que o homem desvia o foco de sua adoração. Enquanto o seu coração estava voltado para Deus, em adorá-lo, o homem mantinha-se fiel aos objetivos de Deus. Assim que é colocado diante dele uma nova visão de Deus e dele mesmo, o homem se centraliza. Essa situação irá sempre se repetir. Outro caso é quando o bezerro de ouro é criado. O que leva o homem a construir deuses é um desejo muito forte de os manipular, essa manipulação nasce no momento em que o foco da adoração é desviado.
A discussão em torno do assunto tem dividido opiniões, enquanto no passado as cisões se davam por questões doutrinarias, hoje a principal causa é a forma litúrgica, ou a prática da adoração. A necessidade de satisfação pessoal é fator determinante, além de ser fator viciante numa discussão e na prática do assunto. Podemos afirmar que tudo o que praticamos em forma de adoração é resultado determinado por aquilo que cremos. Nesse sentido, a adoração e a teologia estão ligadas, sendo ela influência(certa ou errada) na nossa adoração.
O grande perigo que enfrentamos em nossa sociedade, é o fato da adoração ter sido transformada em uma resposta a demanda de um “mercado evangélico”. Isso ocorre, exatamente, em decorrência da centralidade humana em detrimento da centralidade de Cristo. Nesse sentido, tudo atende a uma demanda dos “consumidores” evangélicos. A pluralização fez com que também a adoração fosse colocada em uma vitrine, ou uma prateleira, segundo Rubem Amorese em seu livro Icabode. Quando a pluralização ocorre na igreja, também a adoração é colocada na prateleira, dessa forma, o “consumidor” possui variações do produto buscado (no caso da adoração a busca se mantém em torno da liturgia, ou forma de expressão da adoração), sempre numa satisfação pessoal.
Por outro lado, a Bíblia nos mostra uma adoração totalmente centralizada, e esta centralização não está no homem, e sim em Cristo(Hb 13.15-16). Outro relato nas Escrituras a respeito da centralidade da adoração encontramos em I Pedro 4.11, em ambos os textos Jesus Cristo é colocado como sendo o centro da adoração. Os textos também explicam as razões disso, no texto de Hebreus é colocado o sacrifício de Cristo (Hb 13.11-12). É pelo sacrifício de Cristo que podemos hoje oferecer sacrifício de louvor. O texto de Pedro coloca a glorificação do Pai através do Filho e conclui com uma declaração de que a Jesus Cristo pertencem a glória e o pleno domínio por toda a eternidade.
Se ainda temos dúvidas a respeito dessa centralidade, o Apocalipse demonstra de forma prática o destino eterno da igreja. Assim como os anjos o fazem, a igreja estará por toda a eternidade em contínua adoração. Os capítulos 4 e 5 de Apocalipse mostram um culto em pleno o ápice da adoração(Ap 4.8), não somente os anjos, mas também os vinte e quatro anciãos se prostravam diante daquele que está assentado no trono e adoram Àquele que vive para sempre(Ap 4.10). A declaração do versículo 11 é apoteótica, quando declara que Cristo é nosso Senhor e nosso Deus, o único digno de receber a glória, a honra e o poder. E o texto finaliza declarando que Ele é o Criador de tudo, e tudo o que há foi criado e veio a existir por Ele(Ap 4.11). A Ele seja toda honra, glória e poder.
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